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quarta-feira, 17 de novembro de 2010

A Fome do Absoluto!


Agnóstico é o sujeito que diz: “não conheço os mistérios do mundo e jamais os conhecerei, este é o máximo que perderei de meu tempo para contemplá-los.”

O agnosticismo é a fé do niilista. Numa época em que os indivíduos perdem a consciência de seu papel político perante um mundo que lhes é indiferente, em que sonhos são "somente sonhos", diante de uma crise de câmbio das ideias, até o próprio absoluto se desvaloriza, perdendo sentido. Substitui-se então, as infinitas possibilidades criativas de experiência mística pela aceitação careta e passiva da ignorância.

É preciso dizer penso, no lugar de acredito.

Como escreveu Glauber, "tenho fome de absoluto"! Reconhecer a ignorância, dizer “não sei”, pode ser somente o primeiro passo de um projeto em construção, o princípio de uma intuição própria, embora coletiva e decididamente não dogmática. Os dogmas são o pecado do pensar. Dogma é o pensamento impedido de pensar, estancado em pleno movimento - como uma represa a barrar os fluxos da vida (o que garantirá a ausência de dogmas é precisamente a constante consciência da ignorância).

A partir dessa percepção de ignorância, penso que podemos sempre acrescentar uma outra percepção, esta agora imaginada, montada em retalhos e virada ao contrário. A ideia imaginada, vinda por inspiração estética, soma-se à ignorância para com ela compor uma mentira, uma ficção nascida na carne, e por isso mesmo tão real quanto a própria carne que a secretou. Num fluxo contínuo, a mentira encarna-se no real e o multiplica ao infinito.

Abrir mão da imaginação, das mentiras que inventamos para atravessar a rua, é perder uma das mais fascinantes aventuras da experiência humana: o gozo místico de um parto virtual, um parto de ideias, mundos, seres e mentiras, tão reais e intensas quanto as verdades que mentimos todos os dias.



texto de Marcelo Bichara

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